Essa é uma questão polêmica e que parte da opinião das pessoas e acaba chegando em situações constrangedoras e até mesmo com base legal na lei. Afinal, será que há esse tipo de restrição para quem atua na área da saúde? Por exemplo, médicos podem ter tatuagens?
É uma dúvida interessante de ser pensada porque há muitos jovens que estão no ensino médio e já pensam em cursar medicina. No entanto, será que se fizerem uma tatuagem em alguma parte do corpo isso vai interferir na profissão dele? É o que vamos estudar nesse texto.
O histórico explica a dúvida
Essa dúvida é comum e tem respaldo histórico. Isso porque nos anos de 1990 e até mesmo em meados de 2000 havia sim relatos de casos de demissão ou represálias para quem fizesse símbolos, desenhos ou tivessem escritos na pele, a tal da tatuagem.
Se fizesse após ser contratados, eles poderiam ser demitidos. Se fizessem antes disso, com certeza, seriam rejeitados no processo seletivo. No entanto, hoje em dia o assunto é tratado com muito mais naturalidade pelas empresas e gestores.
E quer saber? Há empresas que até veem com bons olhos essa forma de exposição que muita gente tem, seja com tatuagens, cabelos coloridos ou até piercings. Mas, o que diz a lei?
A lei sobre a demissão por justa causa
Com base no artigo 482 da CLT (Consolidação das Leis de Trabalho), as tatuagens não devem e não podem ser motivos para a demissão por justa causa.
Há ainda uma próxima lei, a de número 9.029/95 que diz que é crime a discriminação de pessoas com tatuagens no ambiente de trabalho. Ambas dão amparo ao profissional da saúde ou qualquer outra área.
No entanto, essas leis acabam sendo esquecidas, já que inúmeros casos que desrespeitam a lei, especialmente por quem tem tatuagens a mostra, onde não há a cobertura pelas roupas.
O que mais saber sobre os direitos
Os advogados concordam em dizer que nenhum gestor pode obrigar os funcionários a usarem fitas esparadrapos para cobrir os desenhos. E garantem que quem se sentir ofendido por isso deve entrar com processos judiciais.
“O trabalhador pode pedir rescisão indireta do contrato de trabalho e ter as indenizações pagas”, afirma o professor da PUC de São Paulo, Anis Kfouri. E finaliza: “É inconstitucional discriminar uma pessoa porque ela tem uma tatuagem”.
As tatuagens na área da saúde
Quando se fala na área da saúde, a questão se intensifica porque ela tende a ser mais tradicional do modo cultural. O motivo é que, por longa data, as pessoas tatuadas foram consideradas mais “rebeldes”, o que não se relacionava com algumas profissões da área.
Agora, o que se sabe hoje é que essa rebeldia não tem ligação direta com tatuagens e que elas não implicam no profissionalismo de um médico, enfermeiro, anestesiologista, etc.
Hoje, ainda que não seja motivo para demissões ou represálias, saiba que o que se tem é apenas uma recomendação que diz que tatuagens ofensivas ou intimas devam estar escondidas em roupas ou com acessórios.
O estudo feito na University of Dundee
Em 2018, um estudo mostrou que a percepção de alunos e funcionários dessa Universidade do Reino Unido diz que certas tatuagens podem ser inapropriadas para os médicos.
Porém, no mesmo tempo, médicos contrariam o estudo ao dizer que houve um renascimento da tatuagem nesse século, no qual elas não pertencem apenas a uma “bolha” e sim a toda a sociedade. Veja o que disse Dra. Sarah Gray:
“Se os médicos refletem a sociedade como um todo, o fato de fazerem tatuagem ou não, além do tipo de tatuagem, não deveria ser algo problemático, né”. No Reino Unido, a cada 5 adultos 1 deles possui ao menos uma tatuagem.
Quem é Sarah Gray
Aliás, para quem é da área da saúde e gosta de tatuagens, considere que ela é considerada a médica mais tatuada do mundo. Ela é formada na Universidade de Adelaide, na Austrália e se especializou em cirurgia ortopédica – curiosamente, ela venceu o concurso Miss Ink Austrialia.
Ela é mais popular por ser alguém que defende a tatuagem na comunidade médica e se tornou uma porta-voz para as outras pessoas que seguem o mesmo caminho das tatuagens. Além das tattoos, ela também tem o cabelo colorido.
Sendo assim, chegou a dizer, por várias vezes, que já foi chamada para reuniões, já foi criticada e até mesmo julgada pelos desenhos. Porém, no seu trabalho, em um centro cirúrgico, os contratantes disseram que a aparência não comprometia o trabalho dela.
As políticas contra tatuagens
Você não vai encontrar empresas, nem mesmo da área da saúde, que tenham políticas que proíbam a contratação de pessoas tatuadas. No entanto, dá para entender algumas situações.
Por exemplo, quando a administração entende que alguma tatuagem de algum funcionário pode ofender ou não permitir um bom relacionamento com os pacientes ou ainda manchar a imagem do lugar.
Nesse caso, há sim a chance de uma rescisão de contrato. É por isso que há a recomendação sobre o lugar do corpo onde fazer a tatuagem. O General Medical Council, do Reino Unido, diz que essa é uma decisão que tem que ser tomada entre o profissional e o empregador.
Ofensa ou aproximação
Indo contra a ideia de que médicos ou profissionais da saúde com tatuagens inibem os pacientes, alguns estudos foram atrás de mostrar que o efeito é contrário.
Conforme a Dra. Sarah, que já foi citada aqui, ela tem histórias de amigos de profissão que contam que o fato de terem tatuagem fez com que os pacientes se sentissem mais à vontade durante a consulta.
“Os pacientes mais tatuados possuem mais facilidade em se comunicar comigo do que com outros médicos porque se sentem julgados por eles”, afirmou.
A tatuagem como alerta para a saúde
Curiosamente, na contramão disso tudo, considere que no ano de 2019 saiu uma matéria falando sobre a criatividade de muitas pessoas que têm feito tatuagens em prol da saúde.
Como assim? Elas estão criando imagens e desenhos que possam indicar ajuda em alguns momentos. Por exemplos, diabéticos escrevendo “Tipo 1” ou “Tipo 2” no antebraço. O alerta pode servir para momentos de efeitos da doença, como desmaios.
“Espero que ajude os profissionais da saúde porque já tomei muita medicação errada e isso traz um efeito colateral muito perigoso”, disse uma professora que tem fibrose cística e, por isso, tatuou a sigla de remédios que tem alergia, como AAS e Corticoide.
A cobertura da tatuagem
De todo modo, considere que se após você ser orientado sobre o assunto, mas já tiver feito a tatuagem, há ainda a chance de esconder o desenho. Isso pode ser feito com as roupas ou não.
Por exemplo, atualmente, dá para usar esparadrapos ou até mesmo band-aid que tenha essa função. Assim, o mais conveniente é conversar sobre isso com um supervisor para tomar a melhor decisão.
Isso porque é inegável que as tatuagens são formas de arte e de exposição que as pessoas têm. E os médicos, que também são pessoas, não deveriam ficar de fora dessa lista. Por isso, sempre vale a pena consultar regras de cada lugar de trabalho, independente da área.
Empresas exigem a cobertura das tattoos
Na internet, também é possível encontrar diversos sites oficiais e de notícias que fizeram reportagens mostrando que até mesmo as grandes empresas, que são aquelas que focam em tecnologia e criatividade acabam “exigindo” que os funcionários tapem o desenho.
No caso da Localiza, que é de aluguel de carros, eles ofertam o esparadrapo para os funcionários que possuem tatuagem. No entanto, eles reclamam que precisam ficar “retocando” o produto toda a hora, já que ele descola.
No caso da rede de farmácias Droga Raia, a empresa não confirmou que exige esse tipo de cobertura. Mas, durante a reportagem, os jornalistas viram que todos os funcionários usavam esse tipo de produto para não deixar a mostra os seus desenhos, símbolos ou frases.
A proibição do uso de tatuagens em concursos públicos
Na internet, há vários relatos de profissionais que sofreram por terem tatuagens. Na BBC há esses relatos. Renan Pires Negrão dos Santos, que é médico, mas atua na Força Aérea Brasileira, diz que se surpreendeu ao saber que seria impedido de trabalhar.
Ele passou no concurso da Polícia Militar de São Paulo em 2013 e mesmo tendo passado na primeira fase do concurso público, ele foi reprovado durante a inspeção de pele do exame médico. “Estava em uma área que poderia ser vista quando eu usasse uniforme de treino”.
Ele falou para a reportagem que mais tarde releu o edital e viu que realmente havia esse requisito. Ainda assim, disse que discorda totalmente do motivo.
Agora esse requisito não existe mais
O caso contado acima, do Renan é de 2013. Então, atualizando a notícia, considere que em agosto de 2016, o Superior Tribunal Federal decidiu que nenhum candidato pode ser desclassificado de concursos públicos por ter tatuagens.
Inclusive, com a decisão do Ministro Dias Toffoli, o Renan precisou ser reintegrado ao trabalho.